Séc. XX
O edifício atual é de 1929. O documento mais antigo sobre a existência da capela de S. Lourenço é o Tombo da freguesia de Vila Chã (1549).
A Capela é de pequena dimensão e constituída por três elementos: corpo da capela, e duas sacristias, uma a sul e outra a norte na parte de trás do templo formando uma cruz. A fachada, voltada a poente, evidencia o estilo vernacular de todo o templo com torre sineira, sem uso e sem sino, coroada com três pináculos. A porta principal é em arco ogival simples, de inspiração revivalista gótica, encimada por uma pequena janela, de arco de volta perfeita, e ostenta no cimo uma cruz sobre acrotério.
No interior, destaca-se, na capela-mor, o pequeno altar com imagem do patrono São Lourenço e o silhar de azulejos.
Apenas por marcação.
Festividade 2.º Domingo de agosto.
São Lourenço
Lourenço era um jovem natural de Huesca, na atual Espanha, nomeado diácono e arcediago de Roma pelo Papa Sisto II, no ano de 257. Ser diácono arcediago (o primeiro dos diáconos) era estar próximo do Papa e seu administrador, lugar que hoje ocupam os cardeais. Um ano depois, no dia 6 de agosto de 258, o próprio Papa Sisto II, junto com quatro dos seus diáconos, foi martirizado. Era o tempo das perseguições e da proibição do cristianismo pelos imperadores romanos. Até ao século IV e V só chegou a tradição oral destes eventos, passados depois para os escritores sagrados, entre os quais o primeiro foi Santo Ambrósio. É dele, e depois de Santo Agostinho e S. Máximo de Turim, que nos chega a vida de S. Lourenço. A tradição diz que o Arcediago Lourenço despede-se do seu Papa, e, no momento da execução, este lhe diz: Eu não vou deixar-te, meu filho. Seguir-me-ás dentro de três dias. Passados três dias do martírio de Sisto II, é Lourenço chamado à presença de Cornelius Saecularis, que lhe pede a entrega de todo o dinheiro possuído pela Igreja. Sabendo desta intenção do Prefeito, havia já Lourenço distribuído todo o dinheiro aos pobres. Assim, responde ao Prefeito: “Manda-me vir amanhã e trar-te-ei tudo o que a Igreja tem de rico!” No dia seguinte, apresenta-se Lourenço e diz ao Prefeito: “Vem comigo contemplar as riquezas que te vou apresentar. [….] Há jóias de beleza admirável!” e, saindo, apontou para um exército de coxos, cegos, crianças órfãs, pobres e doentes, que a Igreja romana alimentava. E terminou: “Estes são os meus tesouros!”
Foi tal a raiva do Prefeito que logo ali o condenou à morte, morte horrível, pois foi queimado numa grelha, momento de heroicidade e de pedido de conversão do Império Romano. Era o dia 10 de agosto de 278. A sua oração cumpriu-se, pois, meio século depois, o Império aceita oficialmente o cristianismo. Junto com as Festas de S. Pedro e S. Paulo, a Festa em Honra de S. Lourenço era das mais importantes da liturgia de Roma.
Lenda de S. Gibas e Zides
Mesmo no início da existência da freguesia, habitavam ali dois irmãos de nomes Gibas e Zides. Um era pastor (o Gibas) e o outro era lavrador (o Zides). Viviam no monte, ali perto do sítio onde hoje está a Capela de S. Lourenço. Ora aconteceu que um dia passou por aqui Santiago, vindo da Terra Santa para Compostela. Era já tarde e queria passar a noite numa casa. Foi à chamada Casa Grande, que era das pessoas mais ricas da terra. Mas lá não lhe deram dormida, pois, ou tinham medo de uma pessoa estrangeira e mal vestida, ou eram muito maus. Saiu dali e, quando passava pelo monte, cruzou-se com o Gibas, que já tinha guardado as ovelhas e as cabras. Depois de o saudar, viu que o estranho não tinha onde dormir. Convidou-o para a sua pobre casa, que era uma cabana de teto de palha. O Santiago aceitou logo. Enquanto Gibas preparava a ceia, chegou o Zides, vindo de amanhar umas leiras. Saudou o hóspede e soube logo o que se passava. Durante a ceia, os dois irmãos ouviram da boca do estrangeiro, que era o Santiago, as notícias de Cristo, tudo o que se tinha passado em Jerusalém, pois ele era apóstolo e tinha visto tudo. Os irmãos ficaram maravilhados! E a pensar nisto foram todos dormir. No dia seguinte, as pessoas souberam da presença daquele estranho. Vieram ver e Santiago deu catequese a todos. Mas dizia coisas que eles não entendiam, nem sobre Cristo nem sobre a mensagem, pois ele dizia que todos eram irmãos em Cristo e que não havia, para Deus, nem ricos nem pobres. As pessoas nem queriam acreditar. Mas havia em Vila chã, nessa altura, pessoas cegas e outras paralíticas, e o Santiago curou-as. Até ressuscitou um morto! Perante isto, todos acreditaram e agradeceram a Gidas e Zides por lhes ter trazido aquele homem santo. Mas quando o Santiago continuou o seu caminho, houve alguém, movido certamente pelo diabo, que não queria que as pessoas fossem cristãs. Viu os culpados no Gidas e no Zides. Vai daí, matou-os e escondeu os corpos. O de Gidas num charco e o de Zides no meio de pedras, no alto do monte. O povo deu pela falta dos dois irmãos e foi à procura deles. Quando encontraram os corpos, o charco transformou-se em campo florido e o monte de pedras numa grande floresta. Vendo o milagre, logo ali chamaram os dois irmãos de santos e mártires! E, depois, foram lembrados para sempre como S. Gidas e S. Zides.
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